Cargas perigosas: conheça 9 tipos, legislação e cuidados necessários

Imagem de caminhão na estrada representando o transporte rodoviário de cargas perigosas

Se você trabalha com transporte rodoviário de cargas, sabe que cada tipo de mercadoria exige cuidados específicos — mas quando falamos de cargas perigosas, a atenção precisa ser redobrada. Estamos lidando com substâncias que, se não forem transportadas de forma correta, colocam em risco a vida das pessoas, o meio ambiente e a segurança da operação como um todo.

E não é exagero: segundo dados da Associação Brasileira de Transporte e Logística de Produtos Perigosos (ABTLP), em 2024, foram registradas mais de mil ocorrências apenas no estado de São Paulo, envolvendo veículos que transportavam produtos perigosos. Em muitos desses casos, o problema poderia ter sido evitado com capacitação, sinalização no transporte de carga adequada e respeito à legislação.

Neste artigo, você vai entender tudo o que precisa saber para garantir uma operação segura e em conformidade com a lei.

Confira os tópicos:

  • O que são as cargas perigosas?
  • Quais são os 9 tipos de cargas perigosas?
  • Entenda os requisitos para transportar cargas perigosas
  • Que cuidados são necessários para transportar cargas perigosas?
  • 5 dicas para tornar a gestão do transporte de cargas mais eficiente e seguro

Bora começar a entender sobre este tema tão importante?

O que são as cargas perigosas?

Cargas perigosas são substâncias ou materiais que, devido às suas propriedades químicas, físicas ou biológicas, apresentam riscos significativos à saúde humana, à segurança pública e ao meio ambiente durante o transporte. Esses riscos podem incluir explosões, incêndios, vazamentos tóxicos ou contaminações.

Por isso, o transporte rodoviário desses produtos exige cuidados especiais e segue regras específicas definidas por órgãos reguladores. No Brasil, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) é a principal responsável por estabelecer e fiscalizar essas normas.

A referência legal é a Resolução ANTT nº 5.998, de 3 de novembro de 2022, que define os critérios obrigatórios para o transporte seguro de cargas perigosas. A norma segue o modelo da Organização das Nações Unidas (ONU) e estabelece obrigações para todas as etapas da operação.

De acordo com a Resolução, é necessário:

  • Classificar corretamente os produtos;
  • Utilizar embalagens e sinalização adequadas nos veículos;
  • Garantir a documentação obrigatória (como o CIPP e Ficha de Emergência);
  • Treinar os motoristas para situações de risco;
  • Seguir condutas padronizadas em caso de emergência.

Em resumo: qualquer substância que apresente risco durante o transporte é considerada carga perigosa — e deve seguir regras rígidas para garantir a segurança de todos. Ignorar essas normas pode gerar multas pesadas, sanções legais e, principalmente, consequências graves para a vida e o meio ambiente.

Quais são os 9 tipos de cargas perigosas?

A classificação das cargas perigosas é padronizada internacionalmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) e adotada no Brasil pela ANTT, conforme a Resolução nº 5.998/2022. 

Essa categorização agrupa os produtos em 9 classes de risco, com base nos perigos que oferecem durante o transporte, como inflamabilidade, toxicidade, corrosividade ou risco de explosão.

Conheça cada uma delas:

1. Explosivos

Incluem materiais capazes de explodir sob certas condições, como dinamites, fogos de artifício, granadas e munições. Esses produtos reagem quimicamente de forma violenta, liberando gás, calor e pressão de maneira súbita. São altamente sensíveis a impacto, atrito ou variações de temperatura.

E existem também algumas subclasses:

  • 1.1 – Risco de explosão em massa (ex: TNT industrial).
  • 1.2 – Risco de projeção, sem explosão em massa.
  • 1.3 – Risco de fogo, com pequeno risco de explosão ou projeção.
  • 1.4 – Risco mínimo; apenas em caso de ignição intensa.
  • 1.5 – Explosivos muito insensíveis, mas com risco de explosão em massa.
  • 1.6 – Artigos extremamente insensíveis, sem risco de explosão em massa.

2. Gases

Compreende gases comprimidos, liquefeitos ou dissolvidos sob pressão. Podem ser inflamáveis, tóxicos ou apenas asfixiantes, com risco de vazamento, incêndio ou explosão.

Subclasses:

  • 2.1 – Gases inflamáveis (ex: propano, butano).
  • 2.2 – Gases não inflamáveis e não tóxicos (ex: nitrogênio, hélio).
  • 2.3 – Gases tóxicos (ex: cloro, amônia anidra).

3. Líquidos inflamáveis

Engloba líquidos com ponto de fulgor inferior a 60 °C, ou seja, que liberam vapores inflamáveis em temperaturas relativamente baixas. Exemplos incluem gasolina, etanol, solventes e tintas.

Esses produtos oferecem risco elevado de incêndio, principalmente durante carregamento e descarregamento.

4. Sólidos inflamáveis, combustão espontânea e reação com água

Essa classe reúne substâncias que podem se inflamar com facilidade, por atrito, calor, contato com o ar ou com a água.

Subclasses:

  • 4.1 – Sólidos inflamáveis ou autorreativos (ex: fósforo vermelho, enxofre).
  • 4.2 – Substâncias sujeitas à combustão espontânea (ex: carvão vegetal, algodão impregnado com óleo).
  • 4.3 – Substâncias que liberam gases inflamáveis em contato com a água (ex: sódio metálico).

5. Substâncias oxidantes e peróxidos orgânicos

São materiais que favorecem ou provocam a combustão de outras substâncias, mesmo sem fonte externa de ignição.

Subclasses:

  • 5.1 – Substâncias oxidantes (ex: nitrato de amônio, perclorato de potássio).
  • 5.2 – Peróxidos orgânicos, que são altamente instáveis e podem explodir com o calor (ex: peróxido de benzoíla).

6. Substâncias tóxicas e infectantes

Materiais que podem causar envenenamento ou infecção ao serem inalados, ingeridos ou entrarem em contato com a pele.

Subclasses:

  • 6.1 – Substâncias tóxicas (ex: pesticidas, cianetos).
  • 6.2 – Substâncias infectantes, geralmente de origem biológica (ex: resíduos hospitalares, vírus, bactérias).

7. Materiais radioativos

Incluem produtos que emitem radiação ionizante, como urânio, césio ou equipamentos médicos usados para diagnóstico e tratamento. Podem causar sérios danos à saúde humana e ao meio ambiente se não forem corretamente acondicionados e monitorados.

8. Substâncias corrosivas

São produtos que, ao entrarem em contato com tecidos vivos ou materiais metálicos, causam corrosão ou destruição. Ex: ácido sulfúrico, soda cáustica. Apresentam riscos graves para a pele, olhos, vias respiratórias e estruturas de veículos.

9. Substâncias e artigos perigosos diversos

Essa classe abrange materiais que não se enquadram nas categorias anteriores, mas ainda assim oferecem risco durante o transporte. Exemplos incluem baterias de lítio, airbags automotivos e produtos com risco ambiental (como resíduos industriais).

Entenda os requisitos para transportar cargas perigosas

O transporte de produtos perigosos exige uma série de cuidados específicos, estabelecidos pela ANTT para garantir a segurança das pessoas, do meio ambiente e da operação logística. 

A Resolução nº 5.998/2022 traz as diretrizes que devem ser seguidas por transportadoras, embarcadores, motoristas e demais envolvidos na cadeia.

Veja os principais requisitos legais e operacionais:

1. Documentação obrigatória

Todos os documentos devem estar legíveis, corretamente preenchidos e, quando aplicável, dentro da validade.

São exigidos:

  • CTPP (Certificado de Capacitação para o Transporte de Produtos Perigosos) ou CIPP (Certificado de Inspeção para o Transporte de Produtos Perigosos), conforme o tipo de transporte, além do CIV (Certificado de Inspeção Veicular) — no caso de transporte a granel. Esses documentos devem ser emitidos pelo Inmetro ou por entidade acreditada e estar válidos.
  • Documento de transporte contendo as informações do produto perigoso, como nome apropriado para embarque, número ONU, classe ou subclasse de risco, e grupo de embalagem. Esse documento pode ser o próprio CT-e, MDF-e ou outro que caracterize a operação, desde que esteja conforme as Instruções Complementares da resolução.
  • Outros documentos ou declarações exigidos nas Instruções Complementares, como ficha de emergência, rótulos e sinalizações, conforme o tipo de carga.

No caso de transporte internacional ou a granel com contêineres certificados, também é aceito o certificado de inspeção internacional, desde que dentro da validade — inclusive em cópia impressa simples.

Importante: a resolução também permite que esses documentos sejam apresentados eletronicamente, desde que regulamentado pela ANTT e aceito no formato utilizado.

2. Sinalização do veículo

O veículo deve ser sinalizado corretamente com:

  • Painéis de segurança: placas laranja com o número ONU da substância.
  • Rótulos de risco: símbolos com a classe do produto (ex: inflamável, corrosivo, tóxico).
  • Plaquetas reflexivas: posicionadas nas laterais e traseira.

A ausência ou má fixação dessas sinalizações é considerada infração grave.

3. Veículo adequado e vistoriado

Nem todo tipo de veículo pode transportar qualquer carga perigosa. O equipamento deve ser:

  • Compatível com o tipo de produto (ex: tanque, baú, graneleiro).
  • Vistoriado regularmente pelo INMETRO (em casos de transporte a granel).
  • Equipado com dispositivos de segurança: extintores, cones, calços, EPIs, kit de emergência ambiental etc.

Além disso, o veículo deve estar em perfeitas condições mecânicas e ter manutenção preventiva atualizada, já que uma falha pode causar acidentes de grandes proporções.

4. Treinamento do condutor

O motorista deve ter:

  • Curso MOPP válido e atualizado.
  • Conhecimento dos riscos do transporte de cargas e do que fazer em situações de emergência.
  • Habilidade para manusear EPIs e acionar os procedimentos previstos na ficha de emergência.

O treinamento também deve ser estendido a operadores de carga/descarga, quando aplicável.

5. Compatibilidade e acondicionamento

É proibido transportar, no mesmo compartimento, substâncias que possam reagir entre si, como inflamáveis e oxidantes. Além disso:

  • A carga deve estar adequadamente embalada, etiquetada e segregada.
  • O acondicionamento deve seguir as instruções da ONU para cada tipo de produto.
  • Cargas a granel exigem tanques certificados e sem vazamentos.

6. Planejamento de rota

O trajeto deve considerar:

  • Trechos autorizados para cargas perigosas.
  • Restrições urbanas e horários de circulação.
  • Locais de parada com estrutura mínima (em caso de emergências).
    Comunicação prévia às autoridades competentes, se exigido pela natureza da carga.

7. Responsabilidades legais

Tanto o embarcador, quanto a transportadora e o condutor possuem responsabilidades compartilhadas:

  • Garantir a veracidade das informações da DTPP.
  • Cumprir as normas de segurança.
  • Evitar danos à saúde, ao meio ambiente e à infraestrutura pública.

Que cuidados são necessários para transportar cargas perigosas?

Transportar cargas perigosas vai além de cumprir normas — exige preparo técnico, atenção aos detalhes e comprometimento com a segurança. Um pequeno erro pode causar danos graves à saúde, ao meio ambiente e à operação. Por isso, é essencial adotar uma rotina rigorosa em todas as etapas do transporte.

O primeiro cuidado começa na base, com as documentações. É preciso verificar se a Declaração de Transporte de Produtos Perigosos (DTPP) está corretamente preenchida, se a ficha de emergência está acessível e se o motorista tem o curso MOPP válido. Documentos como CT-e ou MDF-e também devem estar em dia, além de licenças ambientais, quando exigidas.

O veículo deve estar em perfeitas condições. Isso inclui revisão mecânica atualizada, extintores válidos, sinalizações fixadas corretamente e kits de emergência disponíveis. Cada tipo de carga exige um tipo de carroceria ou tanque, e não seguir essa exigência pode colocar tudo em risco.

A equipe envolvida na operação — motoristas, carregadores, despachantes — precisa conhecer os riscos da carga, saber usar os EPIs adequados e ter clareza sobre os procedimentos de emergência. Esse preparo evita falhas humanas que, no caso de produtos perigosos, têm consequências sérias.

No carregamento e descarregamento, o cuidado deve ser redobrado. É fundamental verificar a integridade das embalagens, garantir que a carga esteja bem fixada e evitar o transporte conjunto de substâncias incompatíveis. Essas etapas são críticas para prevenir vazamentos, incêndios ou reações químicas inesperadas.

A escolha da rota também é estratégica. O trajeto deve respeitar restrições de circulação urbana, priorizar vias autorizadas para esse tipo de carga e prever locais seguros para paradas. O uso de rastreamento e comunicação em tempo real reforça o controle da operação.

Por fim, qualquer incidente deve ser comunicado imediatamente às autoridades competentes, como ANTT, IBAMA e órgãos de trânsito. O silêncio, nesses casos, pode gerar multas severas e comprometer a imagem da empresa no mercado. Cuidar da prevenção é sempre o melhor investimento.

Em resumo, se atente a:

  • Verificar se todos os documentos estão presentes, atualizados e preenchidos corretamente (um checklist pode ajudar — e muito!);
  • Garantir que o veículo esteja em boas condições mecânicas e equipado com os itens obrigatórios de segurança e emergência;
  • Confirmar que a equipe envolvida conhece os riscos e os procedimentos corretos, utilizando sempre os EPIs adequados;
  • Redobrar os cuidados no carregamento e descarregamento, evitando vazamentos, contaminações e incompatibilidades entre produtos;
  • Escolher rotas autorizadas, seguras e com pontos de apoio, além de utilizar o rastreamento para acompanhar a operação;
  • Comunicar qualquer incidente imediatamente aos órgãos competentes, evitando multas, sanções e maiores danos à operação.

5 dicas para tornar a gestão do transporte de cargas mais eficiente e segura

A rotina de quem gerencia o transporte de cargas envolve muitos desafios — desde manter a frota em dia até garantir que cada entrega ocorra com segurança e dentro do prazo. Para alcançar eficiência sem abrir mão da segurança, é preciso unir processos bem definidos, uso de tecnologia e uma cultura de melhoria contínua.

A seguir, você confere 5 dicas práticas que fazem diferença na operação e ajudam sua frota a rodar com mais controle, economia e confiabilidade:

1. Estruture um plano de manutenção preventiva

Evitar que um veículo pare no meio da estrada começa na oficina. Ter um plano de manutenção preventiva bem estruturado reduz falhas mecânicas, melhora a segurança nas viagens e evita gastos desnecessários com corretivas. Use ferramentas que ajudem a organizar datas, alertas e registros de serviço, como a solução de Gestão de Manutenção do Prolog.

2. Adote checklists veiculares padronizados

Checklists diários ou por viagem ajudam a detectar falhas antes que se tornem problemas sérios. A padronização garante que nada passe despercebido — e quando digitalizados, como o Checklist Eletrônico do Prolog, esses checklists ganham rastreabilidade, dados e mais agilidade na tomada de decisão.

3. Treine e envolva seus motoristas

O comportamento dos condutores impacta diretamente no consumo de combustível, desgaste de pneus e segurança da frota. Por isso, investir em treinamentos, boas práticas de condução e comunicação com o time é um dos pilares para uma operação mais eficiente.

4. Utilize indicadores para tomar decisões

Gestão de transporte sem dados é puro achismo. Acompanhar indicadores como custo por km rodado, tempo médio de parada, pneus por veículo e taxa de disponibilidade é o caminho para identificar gargalos e oportunidades reais de economia.

5. Conte com tecnologia especializada

Sistemas de gestão de frota ajudam a centralizar informações, automatizar processos e manter tudo sob controle — da manutenção aos pneus, do checklist ao abastecimento. O resultado é mais eficiência operacional, segurança e redução de custos em todas as etapas da jornada.

Eficiência e segurança no transporte de cargas não são metas distantes — são o reflexo de decisões consistentes no dia a dia da operação. E para te ajudar a dar os próximos passos com ainda mais clareza, preparamos um material gratuito que vai direto ao ponto.

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Autor

Jade Zart

Há mais de 6 anos na área de marketing, hoje coordena o time da Prolog e está sempre antenada nas principais novidades e inovações do setor logístico.

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